domingo, 16 de novembro de 2008

Faz parte do nosso show!


A cada dia que passa tenho mais certeza daquela máxima, que é mais ou menos assim: "de médicos e loucos todos temos um pouco". Ontem fiquei durante praticamente uma tarde na Feira do Livro, em Porto Alegre, no stand que montamos para a TV Bandeirantes, o suficiente para acreditar que sou mais normal que imaginava. Em questão de 4 horas apareceram os mais diferentes tipos falando as coisas mais bizarras.


Primeiro, duas meninas surgiram perguntando se havia alguma equipe da TV ou das rádios ali. Indaguei o motivo, a resposta foi curta e grossa: "queremos aparecer!". Segurando a risada e o espanto pela sinceridade, retruquei:"como assim, aparecer? Aparecer por quê?". Elas mantiveram a mesma expressão de antes e continuaram: "Ué, aparecer. Queremos aparecer. Precisa de motivo?". "Sim!", devolvi com uma risada. "Mesmo que possa parecer irreal nos dias atuais, é preciso sim ter um bom motivo para isso". As duas balançaram a cabeça fazendo cara de desdém e saíram. E eu pensando, será que não querem pintar o corpo de vermelho e subir no poste? Ou quem sabe, ficar peladas e correr no meio do público? Talvez conseguissem atingir o objetivo.


Em seguida, surgiu um cara fedendo a bebida e entrou no stand pedindo brindes. Depois sentou-se numa poltrona onde ficam os convidados dos programas de TV e rádio e abriu sua mochila (com o zíper completamente rasgado). De lá caíram alguns livros e um monte de papéis no chão espalhados, então puxou uma garrafa de vinho, e perguntou, como se estivesse na casa de um grande amigo:"tem um sacarolha?". Sem acreditar no que via, respondi:"Não! Não podemos beber aqui". "Ah, que pena. Mas, não tem problema". Seguiu mexendo na rolha da garrafa e eis que conseguiu puxá-la para fora (pois já havia tirado ela antes provavelmente), empinou um gole no bico da garrafa e esticou o braço me oferecendo. Ainda não acreditava na cena, mas fui educado, agradeci e o lembrei que ali não poderia beber. Ele começou a dizer que era poeta e tinha vários outros talentos, entretanto, não fazia sucesso porque não queria. Preferia não usar a publicidade, enfim, fizera a escolha de ser anônimo. Depois de muitos discursos, perguntou se eu não tinha um violão ali (o sacarolha não tinha sido suficiente). Levantou-se e despediu-se avisando que um dia lembraríamos dele, pois seria famoso. (Contraditório, para alguém que fugia da imprensa e da divulgação.)


Antes que pudesse respirar, apareceu um casal medonho. Coitados, eram muito feios, pelo menos no meu conceito de beleza. E o filho deles, pior ainda. Queriam uma indicação de agência de modelos para apresentar o menino. Quis explodir de rir, mas não fiz isso em respeito as pessoas e aos sonhos delas. Mas, sinceramente, não dava. Tentei achar algo bonito neles, mas nem dentes tinham. Disse que infelizmente não poderia ajudá-los, até porque não estava com minha agenda ali.


Quando achei que já havia sido suficiente para pouco tempo, eis que surge uma mulher grande e robusta, se dizendo professora de 43 turmas diferentes (pelos meus cálculos é quase impossível, a não ser que ela não durma e não coma para dar tempo de trabalhar tanto, mas, em contrapartida, estava passeando na feira calmamente). A criatura falava tanto e tão rápido que entrou pela porta, falou, falou, falou e falou...me deu beijinhos e saiu sem que eu conseguisse tempo de raciocinar ou responder cada pergunta feita. Afinal, não precisava, pois ela indagava e respondia por mim. A única coisa que conseguia prestar a atenção era um tatu pendurado na ponta do seu nariz, verde e seco. Parecia que voaria em mim a cada respirada mais forte ou aproximação.


Durante o período da Feira do Livro entraram por aquela porta do nosso stand todos os tipos de pessoas: pai de santo, bruxa, cantor, ator, modelo, e até um homem que se dizia um vampiro de verdade. Depois de tudo isso só posso concluir que o ser humano é solitário e precisa de atenção. Todos eles queriam que por um minuto os outros os notassem e admirassem, não importando a forma. O mundo é o palco e nem todos querem ser apenas platéia.

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